sábado, 7 de fevereiro de 2015

Olá, pessoal!

Fiquei fora do post da semana passada, mas hoje estou de volta com mais novidades do mundo da culinária e da gastronomia. Aliás, em que os dois termos se diferem? Quando devemos usar um e outro?

A culinária é aquela que se ocupa da preparação dos alimentos. É o que as pessoas fazem no dia-a-dia para se alimentarem, sem refinamento e combinações exóticas[1].

Já a gastronomia[2], apesar de ser um ramo da culinária (pois também se ocupa da preparação da comida), é ainda mais abrangente, pois se ocupa também do refinamento e apresentação dos pratos, das combinações, ou melhor dizendo, das harmonizações entre os pratos (entrada, principal e sobremesa) e as bebidas a serem servidas por cada um. Fala também da etiqueta envolvida para o serviço (como falamos no primeiro post, o da Tia Thereza).


Então a gastronomia é considerada uma ciência enquanto a culinária é considerada uma arte.

Já tivemos muitos autores que falavam arte culinária no começo do século XX (principalmente as autoras) e hoje falamos mais da gastronomia. Outros escreveram sobre a história da alimentação no Brasil, como o Câmara Cascudo, famoso folclorista potiguar, contemporâneo de Gilberto Freyre, autor este que ficou famoso por ter escrito “Casa Grande e Senzala”, mas que foi profícuo na escrita sobre o açúcar e seus doces.

No seu livro A história da Alimentação no Brasil[3]ele vai além e dedica um capítulo à Sociologia da Alimentação: “Nenhuma outra atividade será tão permanente na história humana.” E é pura verdade. Podemos fazer o que for, nunca deixaremos de comer. Na abertura do capítulo ele fala do ditado popular “Papagaio não comeu? Morreu!”. Afirma ainda que a arte rupestre é “fórmula propiciatória para a captura de alimento”, pois tudo o que está ali retratado tratava disso. Comemos, comemos e comemos.

Falamos de comida, nos referimos à comida no nosso cotidiano, usamos comida como insulto ou como termos de duplo sentido. O tempo todo.

O músico dá uma “canja” quando vai tocar uma música no show de outro; a canja também era falada na escola, quando um time era muito fácil de vencer (“é canja, é canja, é canja de galinha...”); damos uma “banana” para quem quer tirar proveito de nós ou ainda “banana” quando uma pessoa é meio boba, devagar ou aquele que cai “igual banana”; quando as coisas são fáceis, elas são “mamão com açúcar”; quando a pessoa é meio inexperiente ela é “café-com-leite”; as crianças brincavam (será que ainda brincam?) de “salada de frutas” (pera, uva, maçã, salada mista); quando a roupa está muito amarrotada, é um “maracujá-de-gaveta”; a mulher pode ser um “filé” (horrível isso!) e se temos uma marca de suor na camisa embaixo do braço, lá temos uma “pizza”; se formos falar de música, tinha que ter um blog só pra isso (Zeca Pagodinho é quem diz que nunca comeu “caviar” e que é mais “ovo frito e farofa com bacon”) e de filmes, outro blog.

Comida também é sinônimo de superstições. Câmara Cascudo também tem um capítulo só pra isso. Em geral os doentes, as crianças e as grávidas/lactantes são os alvos da superstição. Mulheres que amamentam tem que tomar “canjica” para ter muito leite; muitas grávidas são impedidas de cozinhar para que não estraguem a comida; os doentes ganham canja (de novo!) quando estão em convalescença; crianças tem que comer feijão e fígado (não eu) para ter ferro. E a manga e o leite, para sempre separados pelas crendices.



Enfim, comida é cultura de todas as formas. Poderíamos escrever (como já foram escritos), tratados e mais tratados sobre o assunto. Eu hoje fugi um pouquinho da proposta inicial do blog (os livros de receitas), mas o tema é tão vasto que sempre teremos assuntos pertinentes.
Semana que vem eu estou de volta, falando sobre patrimônio imaterial.
Acompanhe no Facebook algumas receitas do livro do Câmara Cascudo que eu colocarei por lá.

Abraços!





[3]Cascudo, Luiz da Câmara. História da Alimentação no Brasil. 2011. Ed. Global
Olá, pessoal!

Fiquei fora do post da semana passada, mas hoje estou de volta com mais novidades do mundo da culinária e da gastronomia. Aliás, em que os dois termos se diferem? Quando devemos usar um e outro?

A culinária é aquela que se ocupa da preparação dos alimentos. É o que as pessoas fazem no dia-a-dia para se alimentarem, sem refinamento e combinações exóticas[1].

Já a gastronomia[2], apesar de ser um ramo da culinária (pois também se ocupa da preparação da comida), é ainda mais abrangente, pois se ocupa também do refinamento e apresentação dos pratos, das combinações, ou melhor dizendo, das harmonizações entre os pratos (entrada, principal e sobremesa) e as bebidas a serem servidas por cada um. Fala também da etiqueta envolvida para o serviço (como falamos no primeiro post, o da Tia Thereza).


Então a gastronomia é considerada uma ciência enquanto a culinária é considerada uma arte.

Já tivemos muitos autores que falavam arte culinária no começo do século XX (principalmente as autoras) e hoje falamos mais da gastronomia. Outros escreveram sobre a história da alimentação no Brasil, como o Câmara Cascudo, famoso folclorista potiguar, contemporâneo de Gilberto Freyre, autor este que ficou famoso por ter escrito “Casa Grande e Senzala”, mas que foi profícuo na escrita sobre o açúcar e seus doces.

No seu livro A história da Alimentação no Brasil[3] ele vai além e dedica um capítulo à Sociologia da Alimentação: “Nenhuma outra atividade será tão permanente na história humana.” E é pura verdade. Podemos fazer o que for, nunca deixaremos de comer. Na abertura do capítulo ele fala do ditado popular “Papagaio não comeu? Morreu!”. Afirma ainda que a arte rupestre é “fórmula propiciatória para a captura de alimento”, pois tudo o que está ali retratado tratava disso. Comemos, comemos e comemos.

Falamos de comida, nos referimos à comida no nosso cotidiano, usamos comida como insulto ou como termos de duplo sentido. O tempo todo.

O músico dá uma “canja” quando vai tocar uma música no show de outro; a canja também era falada na escola, quando um time era muito fácil de vencer (“é canja, é canja, é canja de galinha...”); damos uma “banana” para quem quer tirar proveito de nós ou ainda “banana” quando uma pessoa é meio boba, devagar ou aquele que cai “igual banana”; quando as coisas são fáceis, elas são “mamão com açúcar”; quando a pessoa é meio inexperiente ela é “café-com-leite”; as crianças brincavam (será que ainda brincam?) de “salada de frutas” (pera, uva, maçã, salada mista); quando a roupa está muito amarrotada, é um “maracujá-de-gaveta”; a mulher pode ser um “filé” (horrível isso!) e se temos uma marca de suor na camisa embaixo do braço, lá temos uma “pizza”; se formos falar de música, tinha que ter um blog só pra isso (Zeca Pagodinho é quem diz que nunca comeu “caviar” e que é mais “ovo frito e farofa com bacon”) e de filmes, outro blog.

Comida também é sinônimo de superstições. Câmara Cascudo também tem um capítulo só pra isso. Em geral os doentes, as crianças e as grávidas/lactantes são os alvos da superstição. Mulheres que amamentam tem que tomar “canjica” para ter muito leite; muitas grávidas são impedidas de cozinhar para que não estraguem a comida; os doentes ganham canja (de novo!) quando estão em convalescença; crianças tem que comer feijão e fígado (não eu) para ter ferro. E a manga e o leite, para sempre separados pelas crendices.



Enfim, comida é cultura de todas as formas. Poderíamos escrever (como já foram escritos), tratados e mais tratados sobre o assunto. Eu hoje fugi um pouquinho da proposta inicial do blog (os livros de receitas), mas o tema é tão vasto que sempre teremos assuntos pertinentes.
Semana que vem eu estou de volta, falando sobre patrimônio imaterial.
Acompanhe no Facebook algumas receitas do livro do Câmara Cascudo que eu colocarei por lá.

Abraços!





[3] Cascudo, Luiz da Câmara. História da Alimentação no Brasil. 2011. Ed. Global

sábado, 24 de janeiro de 2015

Olá!

Ao contrário da nossa autora da semana passada, Tia Thereza, onde não encontramos quase nada a respeito da vida dela, a autora dessa semana é uma das mais famosas! Seu nome, Dolores Botafogo, foi respeitado no meio editorial culinário; seus livros, foram lidos e relidos; sua especialidade: bolos artísticos e decorados. Ao remexer meus livros para preparar o post, descobri que tenho 5 livros da Dolores (2 edições distintas de Bolos Artísticos; Bandejas; Salgados, Bolos Artísticos e Doces; e claro, Prenda Seu Marido...Cozinhando!).
Meus livros da Dolores. Sim, gosto de livros velhos!




Foi inclusive este último livro que me deu a ideia do blog. De como, através de receitas e livros, a figura feminina aparecia em submissão ao masculino, mesmo que mascarado de dotes culinários e domésticos essenciais a uma vida marital “perfeita”. É claro que estamos falando da metade do século XX, os conceitos eram outros e isso era considerado normal. As mulheres eram criadas para isso. Serem donas de casas, boas esposas, terem muitos filhos, enfim, serem a “rainha do lar”

No post da semana passada, nós falamos em como a autora dava dicas de recepção e de disposição de talheres e copos, sempre ensinando a mulher a ser uma dona de casa melhor, mas sem ser muito direta. Dolores Botafogo não é assim!

O contexto da época (não no livro) era que o homem voltasse para casa por causa da comida da sua esposa. Coisas como “Segurar seu marido pela boca” ou “Agarrei pelo estômago” eram (e em muitos lugares ainda o é) muito comuns, para os maridos ou para os “pretendentes”. Ou seja, saber cozinhar bem era um indicativo de bom casamento...

Não só na culinária aconteciam essas indicações, mas muitos cursos superiores eram voltados ao público feminino e eram chamados de “curso espera marido”, e a própria museologia (curso em que eu me formei) tinha, neste período a qual nos referimos, esta alcunha.

De volta ao livro, a autora não enseja, nem na apresentação, nem na introdução, uma dica sequer de que aquelas receitas são de fato para prender marido algum. Ela diz que “Para a mulher de gôsto, a arte de bem receber é uma preocupação constante”. Como a autora da semana passada, dá as orientações sobre etiqueta e serviço. De toda forma o livro era voltado para uma classe mais abastada, pois pela época em questão (pelas minhas contas, entre os anos 1950 e 1960), não era comum que as pessoas contassem com “Os serviçais, uniformizados, completam a elegância do conjunto” se não tivessem uma situação financeira tranquila. Hoje em dia podemos contratar esses serviços em buffet.
São mais de 1200 receitas e muitas provavelmente foram testadas. O livro ainda atenta para os utensílios de cozinha, os termos culinários e informações de utilidade (como medidas), além de muitos outros. Seu índice é separado em categorias: Sopas, molhos, entradas, peixes, carnes... E aquela mesma vertente da Tia Thereza, de usar os nomes em francês, continua presente, só que de forma menos afetada, apenas com algumas menções e os nomes em português de Portugal aparecem com frequência também (como fiambres).

O livro é um pouco ilustrado e infelizmente suas fotos estão em preto e branco. De toda forma, Dolores Botafogo foi profícua em sua profissão, inclusive deixando isso claro na apresentação do livro “Em vista do grande interêsse despertado pelos meus anteriores trabalhos sôbre arte culinária, resolvi reunir, em nôvo livro, várias receitas, por mim selecionadas (...)”. Modéstia não era o seu forte. Como eu disse anteriormente que este é um livro dedicado às classes mais abastadas, isso inclui a própria Dolores, moradora da Urca, onde não era (e ainda não é) barato morar ali.

Procurando em outros blogs parceiros, achei mais dois que falavam sobre a nossa autora de hoje e gostaria de recomendá-los:

O primeiro é o Antiguinho:
http://antiguinho.blogspot.com.br/2013/08/dolores-botafogo-capa-do-livro.html

E o outro é o Chef Mare:
http://chefmarecozinhaeconta.blogspot.com.br/2010/10/serie-bolos-antigos-homenagem-as.html

O último é de mais uma que coleciona livros de receitas antigos (e faz!). É o saboreando a vida:
http://saborear-saboreandoavida.blogspot.com.br/2012/08/bolo-delicioso-de-morango-e-livros-de.html


***BÔNUS***
Dentre a minha coleção, tenho dois dos meus livros autografados pela Dolores Botafogo!


















***BÔNUS 2***
Ainda falando sobre a mulher ser "dona-de-casa" e "rainha do lar", a Brinquedos Estrela nos mostrou o quanto isso ainda era bem disseminado nos anos 1980. Essa é uma propaganda da contracapa da revista "Jóias da Cozinha". Eu mesma tinha a maquininha de costura. Era normal, era a época...



Por hoje é só, espero que tenham gostado :D
Deixem seus comentários!

Curtam nossa página no Facebook/comemoscultura
Lá sempre tem alguns posts durante a semana!


Abraços e até o próximo sábado!
Olá!

Ao contrário da nossa autora da semana passada, Tia Thereza, onde não encontramos quase nada a respeito da vida dela, a autora dessa semana é uma das mais famosas! Seu nome, Dolores Botafogo, foi respeitado no meio editorial culinário; seus livros, foram lidos e relidos; sua especialidade: bolos artísticos e decorados. Ao remexer meus livros para preparar o post, descobri que tenho 5 livros da Dolores (2 edições distintas de Bolos Artísticos; Bandejas; Salgados, Bolos Artísticos e Doces; e claro, Prenda Seu Marido...Cozinhando!).
Meus livros da Dolores. Sim, gosto de livros velhos!




Foi inclusive este último livro que me deu a ideia do blog. De como, através de receitas e livros, a figura feminina aparecia em submissão ao masculino, mesmo que mascarado de dotes culinários e domésticos essenciais a uma vida marital “perfeita”. É claro que estamos falando da metade do século XX, os conceitos eram outros e isso era considerado normal. As mulheres eram criadas para isso. Serem donas de casas, boas esposas, terem muitos filhos, enfim, serem a “rainha do lar”

No post da semana passada, nós falamos em como a autora dava dicas de recepção e de disposição de talheres e copos, sempre ensinando a mulher a ser uma dona de casa melhor, mas sem ser muito direta. Dolores Botafogo não é assim!

O contexto da época (não no livro) era que o homem voltasse para casa por causa da comida da sua esposa. Coisas como “Segurar seu marido pela boca” ou “Agarrei pelo estômago” eram (e em muitos lugares ainda o é) muito comuns, para os maridos ou para os “pretendentes”. Ou seja, saber cozinhar bem era um indicativo de bom casamento...

Não só na culinária aconteciam essas indicações, mas muitos cursos superiores eram voltados ao público feminino e eram chamados de “curso espera marido”, e a própria museologia (curso em que eu me formei) tinha, neste período a qual nos referimos, esta alcunha.

De volta ao livro, a autora não enseja, nem na apresentação, nem na introdução, uma dica sequer de que aquelas receitas são de fato para prender marido algum. Ela diz que “Para a mulher de gôsto, a arte de bem receber é uma preocupação constante”. Como a autora da semana passada, dá as orientações sobre etiqueta e serviço. De toda forma o livro era voltado para uma classe mais abastada, pois pela época em questão (pelas minhas contas, entre os anos 1950 e 1960), não era comum que as pessoas contassem com “Os serviçais, uniformizados, completam a elegância do conjunto” se não tivessem uma situação financeira tranquila. Hoje em dia podemos contratar esses serviços em buffet.
São mais de 1200 receitas e muitas provavelmente foram testadas. O livro ainda atenta para os utensílios de cozinha, os termos culinários e informações de utilidade (como medidas), além de muitos outros. Seu índice é separado em categorias: Sopas, molhos, entradas, peixes, carnes... E aquela mesma vertente da Tia Thereza, de usar os nomes em francês, continua presente, só que de forma menos afetada, apenas com algumas menções e os nomes em português de Portugal aparecem com frequência também (como fiambres).

O livro é um pouco ilustrado e infelizmente suas fotos estão em preto e branco. De toda forma, Dolores Botafogo foi profícua em sua profissão, inclusive deixando isso claro na apresentação do livro “Em vista do grande interêsse despertado pelos meus anteriores trabalhos sôbre arte culinária, resolvi reunir, em nôvo livro, várias receitas, por mim selecionadas (...)”. Modéstia não era o seu forte. Como eu disse anteriormente que este é um livro dedicado às classes mais abastadas, isso inclui a própria Dolores, moradora da Urca, onde não era (e ainda não é) barato morar ali.

Procurando em outros blogs parceiros, achei mais dois que falavam sobre a nossa autora de hoje e gostaria de recomendá-los:

O primeiro é o Antiguinho:
http://antiguinho.blogspot.com.br/2013/08/dolores-botafogo-capa-do-livro.html

E o outro é o Chef Mare:
http://chefmarecozinhaeconta.blogspot.com.br/2010/10/serie-bolos-antigos-homenagem-as.html

O último é de mais uma que coleciona livros de receitas antigos (e faz!). É o saboreando a vida:
http://saborear-saboreandoavida.blogspot.com.br/2012/08/bolo-delicioso-de-morango-e-livros-de.html


***BÔNUS***
Dentre a minha coleção, tenho dois dos meus livros autografados pela Dolores Botafogo!


















***BÔNUS 2***
Ainda falando sobre a mulher ser "dona-de-casa" e "rainha do lar", a Brinquedos Estrela nos mostrou o quanto isso ainda era bem disseminado nos anos 1980. Essa é uma propaganda da contracapa da revista "Jóias da Cozinha". Eu mesma tinha a maquininha de costura. Era normal, era a época...



Por hoje é só, espero que tenham gostado :D
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Lá sempre tem alguns posts durante a semana!


Abraços e até o próximo sábado!

sábado, 17 de janeiro de 2015

“A Enciclopédia de Arte Culinária da Tia Thereza” – 3º volume


A intenção da autora é dar um ar de sofisticação ao livro e às suas receitas, com capítulos como “Jantar de Cerimônia” e muitos pratos com nomes em francês, o que era ainda bem comum, além do inglês, do italiano entre outros. Junto aos capítulos, a autora dá uma breve explicação do evento e da etiqueta e protocolo a ser servido. Em “Uma recepção elegante”, ela discorre:

Os salões deverão estar iluminados e floridos. Os donos da casa esperarão no hall, a chegada dos convidados e aí ficarão recebendo, conversando com alguns amigos e verificando se todos estão sendo encaminhados para os salões. Os íntimos costumam ajudar a receber, fazendo apresentações e conduzindo as pessoas aos salões de buffet.


Este volume, assim como os demais, é dividido em capítulo e alguns com horários e uma sumária explicação do que é o evento e os pratos as serem servidos (seguidos, claro, de suas receitas), além das explicações como a feita anteriormente. Alguns exemplos como Coquetel Party (com recomendação de horário das 18 às 20  horas), com receitas de coquetéis (com e sem álcool) e comidas salgadas e comidas doces. Receitas como Milk Stocking coquetel e Brochettes D’Huître fazem parte do cardápio. 

Vejam outros exemplos: Pratos para festas - com receitas de lagostas, filés mignons e vários nomes em francês, do tipo “Suprème de Volaille à la Vogue”). Churrasco de Campanha(onde ela explica que a carne preferencial para este tipo de refeição é o de “novilho, novo e gordo, ou de cordeiro, sacrificado na véspera, à tarde, para sangrar convenientemente e amolecer a carne.” Segue ainda falando em poder “churrasquear” e “carnear” porco, galinha e linguiça. No final, faz uma pequena diferença com o churrasco de jardim, o barbecue. Uma Festinha – “É uma reunião simples, organizada, quase sempre, pelos jovens da casa”.

Acredito que algumas receitas beirem as raias da impossibilidade de execução: “Galinha D’angola ou Faisão com repolho de Bruxelas”.

Contudo, é interessante analisar a mentalidade de uma classe claramente dominante, onde o estrangeiro, o diferente e o sofisticado eram as coisas que valiam, enquanto o folclore, o popular e as tradições orais não tinham vez nas publicações. Hoje, em movimento inverso, buscamos preservar nossas raízes, tradições, salvaguardar o patrimônio imaterial, buscar, pesquisar, analisar. Ainda temos exemplos de livros como estes e eles tem o seu valor documental, como pudemos ver aqui.  É inegável a influência de outros países na nossa formação, principalmente a francesa, mas hoje podemos recriar e reelaborar esses conceitos para o nosso cotidiano. A internet, as mídias sociais, os blogs, possibilitam que todos possam nos contar o que acontecia e o que ainda acontece em muitos recantos do país. 

Espero que tenham gostado da Tia Thereza.


Até sábado que vem! J
“A Enciclopédia de Arte Culinária da Tia Thereza” – 3º volume


A intenção da autora é dar um ar de sofisticação ao livro e às suas receitas, com capítulos como “Jantar de Cerimônia” e muitos pratos com nomes em francês, o que era ainda bem comum, além do inglês, do italiano entre outros. Junto aos capítulos, a autora dá uma breve explicação do evento e da etiqueta e protocolo a ser servido. Em “Uma recepção elegante”, ela discorre:

Os salões deverão estar iluminados e floridos. Os donos da casa esperarão no hall, a chegada dos convidados e aí ficarão recebendo, conversando com alguns amigos e verificando se todos estão sendo encaminhados para os salões. Os íntimos costumam ajudar a receber, fazendo apresentações e conduzindo as pessoas aos salões de buffet.


Este volume, assim como os demais, é dividido em capítulo e alguns com horários e uma sumária explicação do que é o evento e os pratos as serem servidos (seguidos, claro, de suas receitas), além das explicações como a feita anteriormente. Alguns exemplos como Coquetel Party (com recomendação de horário das 18 às 20  horas), com receitas de coquetéis (com e sem álcool) e comidas salgadas e comidas doces. Receitas como Milk Stocking coquetel e Brochettes D’Huître fazem parte do cardápio. 

Vejam outros exemplos: Pratos para festas - com receitas de lagostas, filés mignons e vários nomes em francês, do tipo “Suprème de Volaille à la Vogue”). Churrasco de Campanha (onde ela explica que a carne preferencial para este tipo de refeição é o de “novilho, novo e gordo, ou de cordeiro, sacrificado na véspera, à tarde, para sangrar convenientemente e amolecer a carne.” Segue ainda falando em poder “churrasquear” e “carnear” porco, galinha e linguiça. No final, faz uma pequena diferença com o churrasco de jardim, o barbecue. Uma Festinha – “É uma reunião simples, organizada, quase sempre, pelos jovens da casa”.

Acredito que algumas receitas beirem as raias da impossibilidade de execução: “Galinha D’angola ou Faisão com repolho de Bruxelas”.

Contudo, é interessante analisar a mentalidade de uma classe claramente dominante, onde o estrangeiro, o diferente e o sofisticado eram as coisas que valiam, enquanto o folclore, o popular e as tradições orais não tinham vez nas publicações. Hoje, em movimento inverso, buscamos preservar nossas raízes, tradições, salvaguardar o patrimônio imaterial, buscar, pesquisar, analisar. Ainda temos exemplos de livros como estes e eles tem o seu valor documental, como pudemos ver aqui.  É inegável a influência de outros países na nossa formação, principalmente a francesa, mas hoje podemos recriar e reelaborar esses conceitos para o nosso cotidiano. A internet, as mídias sociais, os blogs, possibilitam que todos possam nos contar o que acontecia e o que ainda acontece em muitos recantos do país. 

Espero que tenham gostado da Tia Thereza.


Até sábado que vem! J
Sábado é dia de post! E como vai ser o primeiro post pra valer, ele vai ser duplo!

Então, aproveitem! Dúvidas, sugestões, críticas e elogios, é só falar! :D

O livro de receitas escolhido para ser o primeiro na análise, foi o 3º volume da “Enciclopédia de Arte Culinária da Tia Thereza”, que ilustra nossa foto. Composto por 3 volumes, foi editado em 1978 pela Editora Egéria S.A, de São Paulo.

A autora não é citada (provavelmente os padrões ABNT eram outros e bem baixos, pois não há todas aquelas informações que hoje existem nos livros); a única autora com nome de “Thereza” de livros de culinária é Maria Thereza A. Costa, mas temos dois problemas aí: o primeiro é que, Maria Thereza já era uma escritora na década de 1950, então, por que se apropriar de um apelido e não assinar seu nome já conhecido na década de 1970? Outra questão é que, por não haver o nome da autora explicito, pode ter sido somente uma compilação feita pela editora, mas mesmo assim, fica omitido o nome de seu organizador. Caso alguém saiba estas informações, fique à vontade para ajudar!

Pelo nome, já podemos perceber que a autora (ou a editora) quer ter alguma proximidade com suas leitoras (digo leitoras no feminino, pois era o público-alvo) se autodenominando “tia”, evocando uma ideia das tias cozinheiras (como ‘tia’ Nastácia, do Sítio do Pica-Pau Amarelo). Entretanto, ao olharmos as receitas, veremos que essa ideia do trivial é diametralmente oposta ao que foi publicado.

O livro foi bastante popular na sua época, uma vez que, dentro das doações que recebo de livros, havia duas coleções completas e mais este terceiro volume avulso.
Quando da edição deste livro, não era muito comum termos chefs de cozinha na quantidade que temos hoje e as mulheres eram as grandes “sabedoras” dos conhecimentos culinários. Eram as donas das panelas e mulher que sabia bem cozinhar era considerada “casadoira” (é só lembrar que – até hoje, infelizmente – quando uma mulher faz alguma coisa gostosa na cozinha, sempre vem aquele que fala “Já pode casar”).

Entretanto, as receitas eram provavelmente uma cópia dos livros estrangeiros e o mais importante era o status, não só de escrever o livro (status que existe até hoje), mas de mostrar que dominava a etiqueta e as boas maneiras, haja vista as indicações que nos foram dadas ao longo dos capítulos.  O que também acontecia, é que as donas de casa mais abastadas não faziam todo o cardápio de uma festa, pois contavam com diversas ajudantes de cozinha além de uma cozinheira e raramente assumiam o comando da cozinha. Só entregavam o que havia de ser feito e pronto. De novo, o status.

As receitas não eram testadas em sua maioria, pois uns instantes na cozinha com aquele livro era suficiente para saber que algumas eram inviáveis. Cabe lembrar que quando da edição do livro, 1978, o país vivia uma estado de exceção e não havia possibilidade da dona de casa comum simplesmente desejar importar ou comprar facilmente alguns ingredientes para sua receita e alguns não eram produzidos aqui. Logo, estimo uma média de 10% das receitas terem sido realmente de família, ou seja, foram testadas e aprovadas, transmitidas oralmente por tias, avós, madrinhas, anotados em caderninhos de receitas, papel de pão ou recortada de revista...


Como eu falei acima sobre os chefs (que também são escritores), hoje eles testam suas receitas e mostram, o mundo requer isso deles. É o que eles fazem para viver. Também tem o Youtube e seus milhares de canais e os programas de TV; então ali mesmo, assistindo a receita, podemos decidir se dá para fazer ou não. O Facebook conta com grupos de diversos segmentos da culinária, cada um com a sua especialidade, conversando e trocando receitas. Tudo é muito dinâmico, mas o bom e velho livro de receitas ainda vende e é companheiro de muita gente.

Vejam no post seguinte que loucura eram os livros! 

Boa leitura!!!
Sábado é dia de post! E como vai ser o primeiro post pra valer, ele vai ser duplo!

Então, aproveitem! Dúvidas, sugestões, críticas e elogios, é só falar! :D

O livro de receitas escolhido para ser o primeiro na análise, foi o 3º volume da “Enciclopédia de Arte Culinária da Tia Thereza”, que ilustra nossa foto. Composto por 3 volumes, foi editado em 1978 pela Editora Egéria S.A, de São Paulo.

A autora não é citada (provavelmente os padrões ABNT eram outros e bem baixos, pois não há todas aquelas informações que hoje existem nos livros); a única autora com nome de “Thereza” de livros de culinária é Maria Thereza A. Costa, mas temos dois problemas aí: o primeiro é que, Maria Thereza já era uma escritora na década de 1950, então, por que se apropriar de um apelido e não assinar seu nome já conhecido na década de 1970? Outra questão é que, por não haver o nome da autora explicito, pode ter sido somente uma compilação feita pela editora, mas mesmo assim, fica omitido o nome de seu organizador. Caso alguém saiba estas informações, fique à vontade para ajudar!

Pelo nome, já podemos perceber que a autora (ou a editora) quer ter alguma proximidade com suas leitoras (digo leitoras no feminino, pois era o público-alvo) se autodenominando “tia”, evocando uma ideia das tias cozinheiras (como ‘tia’ Nastácia, do Sítio do Pica-Pau Amarelo). Entretanto, ao olharmos as receitas, veremos que essa ideia do trivial é diametralmente oposta ao que foi publicado.

O livro foi bastante popular na sua época, uma vez que, dentro das doações que recebo de livros, havia duas coleções completas e mais este terceiro volume avulso.
Quando da edição deste livro, não era muito comum termos chefs de cozinha na quantidade que temos hoje e as mulheres eram as grandes “sabedoras” dos conhecimentos culinários. Eram as donas das panelas e mulher que sabia bem cozinhar era considerada “casadoira” (é só lembrar que – até hoje, infelizmente – quando uma mulher faz alguma coisa gostosa na cozinha, sempre vem aquele que fala “Já pode casar”).

Entretanto, as receitas eram provavelmente uma cópia dos livros estrangeiros e o mais importante era o status, não só de escrever o livro (status que existe até hoje), mas de mostrar que dominava a etiqueta e as boas maneiras, haja vista as indicações que nos foram dadas ao longo dos capítulos.  O que também acontecia, é que as donas de casa mais abastadas não faziam todo o cardápio de uma festa, pois contavam com diversas ajudantes de cozinha além de uma cozinheira e raramente assumiam o comando da cozinha. Só entregavam o que havia de ser feito e pronto. De novo, o status.

As receitas não eram testadas em sua maioria, pois uns instantes na cozinha com aquele livro era suficiente para saber que algumas eram inviáveis. Cabe lembrar que quando da edição do livro, 1978, o país vivia uma estado de exceção e não havia possibilidade da dona de casa comum simplesmente desejar importar ou comprar facilmente alguns ingredientes para sua receita e alguns não eram produzidos aqui. Logo, estimo uma média de 10% das receitas terem sido realmente de família, ou seja, foram testadas e aprovadas, transmitidas oralmente por tias, avós, madrinhas, anotados em caderninhos de receitas, papel de pão ou recortada de revista...


Como eu falei acima sobre os chefs (que também são escritores), hoje eles testam suas receitas e mostram, o mundo requer isso deles. É o que eles fazem para viver. Também tem o Youtube e seus milhares de canais e os programas de TV; então ali mesmo, assistindo a receita, podemos decidir se dá para fazer ou não. O Facebook conta com grupos de diversos segmentos da culinária, cada um com a sua especialidade, conversando e trocando receitas. Tudo é muito dinâmico, mas o bom e velho livro de receitas ainda vende e é companheiro de muita gente.

Vejam no post seguinte que loucura eram os livros! 

Boa leitura!!!

sábado, 10 de janeiro de 2015

Comemos cultura

A ideia de fazer um blog sobre culinária é antiga, mas quando comecei a colecionar livros de receitas de diversas épocas, delineou-se exatamente o que eu queria fazer, junto com as coisas que eu penso e estudo. 

Não pretendo aqui ser uma culinarista ou uma antropóloga, mas quero analisar os livros pela ótica antropológica, com os conceitos de mulher, família e culinária (além de outros que possam surgir) de cada época; a mulher como a grande dona de casa ilustrada nos livros que vem até épocas recentes.

Os nomes das receitas e de alguns livros são as provas mais contundentes desse passado menos feminista, ou melhor dizendo, com uma outra ideia de mulher, como se aqueles (as prendas do lar) fossem um dos poucos exercícios possíveis para este gênero.

Já existem alguns trabalhos sendo feitos nesse sentido pelo Brasil. Não busco o inédito, mas sim ajudar, tanto aos que estudam quanto aos que se interessam pelo assunto.

As postagens serão semanais a princípio, pois tenho muitos livros e receitas avulsas, que precisam ser analisados, alinhados com os conceitos propostos e então publicados. Também publicarei algumas receitas para mostrar o quanto dispendiosas poderiam ser e que - provavelmente - não foram testadas...

Comemos cultura

A ideia de fazer um blog sobre culinária é antiga, mas quando comecei a colecionar livros de receitas de diversas épocas, delineou-se exatamente o que eu queria fazer, junto com as coisas que eu penso e estudo. 

Não pretendo aqui ser uma culinarista ou uma antropóloga, mas quero analisar os livros pela ótica antropológica, com os conceitos de mulher, família e culinária (além de outros que possam surgir) de cada época; a mulher como a grande dona de casa ilustrada nos livros que vem até épocas recentes.

Os nomes das receitas e de alguns livros são as provas mais contundentes desse passado menos feminista, ou melhor dizendo, com uma outra ideia de mulher, como se aqueles (as prendas do lar) fossem um dos poucos exercícios possíveis para este gênero.

Já existem alguns trabalhos sendo feitos nesse sentido pelo Brasil. Não busco o inédito, mas sim ajudar, tanto aos que estudam quanto aos que se interessam pelo assunto.

As postagens serão semanais a princípio, pois tenho muitos livros e receitas avulsas, que precisam ser analisados, alinhados com os conceitos propostos e então publicados. Também publicarei algumas receitas para mostrar o quanto dispendiosas poderiam ser e que - provavelmente - não foram testadas...